Natal

11-12-2019

Adoro o Natal! Para ser sincera, não comemoro o Natal no sentido religioso. Para mim, o Natal é um ritual familiar. Celebra a família, a partilha e os ambientes caseiros de inverno, com lareiras, cobertores, chá quentinho com bolachinhas acabadas de sair do forno e a casa a cheirar a bolos.
Eu sei que o Natal é uma tortura de consumismo, filas de trânsito, filas de gente e stress, mas também é um ambiente quentinho, é luzinhas pequeninas e decorações aconchegantes, é família em casa, é jantares de amigos, é viagem à terra, é surpresas e mimos.
Eu gosto de rituais. Ao longo dos anos fui criando vários rituais na nossa família dos quais todos participamos ano após ano e nos fazem sentir em casa. Os rituais aproximam-nos, fazem-nos passar momentos juntos e partilhar emoções. 


A nossa família tem vários rituais nesta época natalícia. Dia 1 de dezembro, enfeitamos a casa em família, montamos a árvore de natal ao som de música natalícia e registamos o evento. A nossa árvore é de plástico, assim como alguns dos enfeites, outros são de tecido mas já os temos há muito tempo e não tem lógica deitar fora, por isso vão durar o resto das nossas vidas. Os de tecido são lindos e são uma boa opção, são do Era Uma Vez Um Sonho, da Julieta Franco, e também já os temos desde que os miúdos eram bebés.


Ao longo de todo o mês temos o Calendário do Advento, que à primeira vista poderia soar a consumista, mas a pretexto do qual a nossa imaginação voa para muitas surpresas não materiais. O nosso calendário já teve várias versões; a tradicional, em que sai uma prendinha a simbólica tipo um chocolate ou uma moeda em cada dia; a versão puzzle, em que em cada dia sai um conjunto de peças e em família vamos construindo uma imagem e a versão de atividades, em que cada dia sai algo que temos de fazer em conjunto, como um passeio, um jantar piquenique no chão da sala, uma ida a um concerto, etc...


O suporte deste calendário tem duas versões que vão sendo reutilizadas ano após ano, desde que os miúdos nasceram. A primeira versão é uma placa de madeira pintada com envelopes de papel colados e a outra são uns saquinhos costurados por mim e outros reaproveitados de outras coisas.


Também costumamos ir juntos ver as luzes da cidade, ir a um concerto, comer bacalhau e batatas no dia 24 com a avó Minda e o tio Jorge e viajar dia 25 de manhã para Viseu para almoçar com a Avó Alice e o Avô Serafim e em alguns natais com o tio Luís, a Dália a prima Hannah, que vêm do Cairo, e outros com o tio Tiago e a Hillary que moram em Londres.


Tenho algumas saudades do Natal da minha infância, que passávamos em casa da minha tia Nita, com os avós e os primos, os tios e, por vezes, algum amigo. A semana que antecedia o Natal, com todos os preparativos, o cheiro da comida, as horas que passávamos com os primos a jogar às cartas ou a construir cidades inteiras de playmobil no quarto dos brinquedos, eram dias que eu adorava, mas havia uma coisa que me deixava mesmo muito desconfortável e me fez desde sempre achar que o Natal não era assim tão justo. Era o momento da abertura das prendas na meia noite de dia 24. Aquela imensidão de objetos que cada um recebia com um histerismo exacerbado e que eu não entendia, a injustiça que sentia pelo facto de alguns receberem uma lista inteira de presentes e de outros não - mas como poderia o Pai Natal dar mais presentes a uns que a outros? Estes eram alguns dos pensamentos inocentes que rondavam a minha cabeça e para os quais eu não encontrava uma resposta. Quando finalmente descobri a verdade, lembro-me de pensar que era mesmo injusto o Pai Natal ficar com os louros todos! Outra das memórias que guardo até hoje, era o mar de lixo no final da festa e lembro-me de me perguntar o que seria daquele amontoado de lixo e como seria se nas outras casas também fizessem tanto lixo, mas na altura, ninguém pensava nisso, acho que naquela época todos achavam que o nosso planeta era imortal.
Por isso, quando os meus filhos nasceram fiz questão que soubessem quem lhes dava cada presente, ano após ano fui tentando minimizar o número de presentes dados, fui reduzindo o desperdício em pacotes e embrulhos e, este ano, e após muitos anos de pedidos do meu marido que nestas coisas é muito mais desprendido do que eu, decidi em conjunto com a minha família não comprar presentes para os adultos nesta altura. As crianças/adolescentes vão receber uma prenda para a qual todos nós vamos contribuir e será alguma coisa realmente útil ou uma boa experiência.
Atenção, eu adoro dar presentes, mas não gosto do stress das compras, nem de pensar à pressa e escolher presentes só porque sim. Nem gosto de pôr os outros a fazer esse esforço, para além de que, no meu estilo de vida atual, a maioria dos presentes já não fazem sentido, pois procuro usar apenas um número limitado de objetos e a maioria das vezes os presentes acabam por ficar guardados, sem uso. Por isso, na noite de 24, vamos usufruir da companhia uns dos outros, sem stress, e vou fazer doces como mimo aos convidados.
A todos os familiares e amigos, peço, não nos comprem presentes, ou se fizerem mesmo questão disso, ofereçam um momento na vossa companhia. Para nós é muito importante saber que não contribuímos para o stress natalício e o que mais valorizamos é estar e passar bons momentos com todos.

Bom Natal

Carla Albuquerque | © 2019
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