Felicidade

Ontem foi um dia de energias positivas. Se há dias em que nos parece que o mundo está todo de pernas para o ar, há outros que pela sua raridade nos deixam surpreendidos pela positiva.
Estive no Porto a dar uma formação sobre movimento a um grupo de professores e pela primeira vez, em formações deste género, encontrei um grupo de pessoas que me surpreendeu bastante. Até tenho pena de não ter passado mais tempo de modo informal com elas.
No início da formação parecia que era um grupo normal, pouco recetivo e incrédulo sobre a utilidade do que temos para partilhar com eles, mas a pouco e pouco fomos todos descontraindo e rapidamente começaram a participar ativamente e, para minha surpresa, a maioria sem grandes preconceitos ou medo de errar. Pareciam miúdos divertidos uns com os outros e com as atividades que eu ia propondo, sem stress, sem tensão, e apesar do cansaço, pois as atividades eram fisicamente exigentes, assim que as lançava, aderiam de boa vontade e Felizes!
Um colega que está a viver no Porto há relativamente pouco tempo, partilhou que gostava mais das pessoas do Norte porque eram mais simpáticas. Quando comentei com ele, a meio da formação, que achava este grupo muito descontraído e divertido, ele voltou a fazer o mesmo comentário: - "...é pessoal do Norte." O que é um facto é que pareciam felizes, pelo menos naquele momento. Senti que estavam mesmo ali, a usufruir o estarem uns com os outros e aquele contexto. Numa altura em que se anda por aí a medir a felicidade dos países, surgiu-me esta questão: será que as pessoas do Norte do nosso país são mais felizes que as do Sul e por isso conseguem ser mais descontraídas e simpáticas? Acho que daria uma boa investigação.
Há uns tempos li um livro intitulado "A Geografia da Felicidade" em que o autor, o jornalista Eric Weiner, a partir de Roterdão, na Holanda, onde se encontra o maior centro mundial de estudos da felicidade, definia o seu itinerário para uma viagem à descoberta das possíveis causas para explicar a (in)felicidade de certos povos. Entre muitas ideias interessantes houve uma que me pareceu ser muito relevante e que é também um dos maiores problemas da atualidade. As pessoas dos povos considerados mais felizes tinham por princípio não ostentar a sua felicidade. Não se exibiam os grandes carros, nem as opulentas casas, nem as viagens fantásticas. Não sentiam necessidade, nem achavam bem, esfregar na cara dos vizinhos a sua felicidade.
Se pensarmos um pouco sobre as redes sociais, acontece muito isto. Estamos constantemente a acenar aos nossos amigos o quão felizes nós somos, ou porque viajamos muito ou porque comemos num restaurante espetacular ou porque temos muitos amigos... O que é certo (e preocupante) é que já se relaciona a constante utilização das redes sociais com o aumento de casos de estados depressivos, tanto em adultos como em jovens. Porque algumas pessoas, especialmente os jovens com menos experiência de vida, parecem não perceber que a realidade da vida da maioria das pessoas não é sempre a que é apresentada nas redes sociais, e que todos nós temos momentos bons e maus, apenas não gostamos de partilhar os maus. Não há nada de errado com a nossa vida. É normal ter problemas.
Não tenho nenhum truque ou conselho para se ser mais feliz, apenas sei que é normal que o nosso mundo ande muitas vezes de pernas para o ar e que isso não vai mudar porque faz parte de se estar vivo. A existir um segredo, esse poderá estar em saber como passar por esses dias procurando tirar daí um qualquer ensinamento que nos deixe mais fortes e mais preparados para que da próxima vez não nos atinja tanto.