Concursos - prós e contras
Durante algum tempo, fui completamente contra a participação dos nossos alunos em concursos de dança e, na verdade, ainda sou um bocadinho.
Para mim a dança é uma arte e a arte "condensada" que normalmente é representada num número para apresentação em concurso não me satisfaz. A forma como se costuma avaliar esta arte também é bastante precária, basta analisar as condições em que um júri avalia para percebermos o quanto essa avaliação pode tornar-se falível. Vejamos, o júri tem de avaliar uma coreografia em tempo recorde, entre 2 a 4 minutos; enquanto vê, tem de escrever, pois as pausas são escassas e está horas seguidas a avaliar. Não é humanamente possível estar atento tanto tempo e desempenhar um bom trabalho. Eu própria constato que, quando tenho muitas horas de ensaios pela frente, a certa altura já me parece tudo muito semelhante, e tenho dificuldade em ser eficaz e objetiva. Há, também, a questão do gosto e das preferências: enquanto um júri pode gostar mais de coreografias com linhas clássicas, outro pode gostar mais de linhas que rompem com a norma, portanto a avaliação é, até certo ponto, muito relativa. A somar a estas condicionantes, ainda podemos presenciar situações e posturas de competição mal orientadas, ou seja, veem-se participantes (crianças e professores) que incentivam e são incentivados a ter uma postura agressiva em relação à forma como encaram a competição, sendo, por vezes, cruéis uns com os outros e ficando frustrados a ponto de ficarem emocionalmente desequilibrados quando ficam a saber os resultados. Tudo isto contribui para transformar o que deveria ser um encontro de escolas com energia de festa num ambiente pesado, de ciúme e frustração.
Neste momento, e face ao que descrevi, todos devem estar a considerar o porquê de participarmos nestes concursos.
A certa altura, e cedendo aos pedidos incessantes dos alunos e à sugestão de uma amiga e colega que admiro muito, favoráveis à participação em concursos, pensei: bom, se quero que eles se sintam felizes e realizados, se quero fazer-lhes a vontade, tenho de dar a volta a esta realidade. Resolvi, por conseguinte, encarar esta situação da seguinte forma: como uma oportunidade de mostrar o nosso trabalho, ou seja, assumindo com os meus colegas e alunos que tudo o que levaríamos a concurso seria o que gostamos de fazer e que é, também, a linha da nossa companhia profissional (CaDA), isto é, longe de acrobacias e lantejoulas só porque sim. Procurando estabelecer princípios muito claros que descentrassem os alunos do objetivo 'ganhar uma medalha', definimos estes objetivos para os concursos:

1. mostrar o nosso trabalho;
2. viver um processo de criação em conjunto;
3. divertir-nos a fazer o que mais gostamos, dançar;
4. passar tempo juntos e melhorar o relacionamento de grupo;
5. ver colegas de outras escolas e aprender com eles;
6. cultivar a nossa imaginação;
7. conhecer pessoas, criar amigos;
8. apoiar os trabalhos que gostarmos;
9. tentar dar o melhor de nós num curto espaço de tempo, e se falharmos, aceitar que é humano e faz parte da vida. Estaremos todos a apoiar-nos uns aos outros, corra bem ou corra mal. Se nos atribuírem uma boa nota vai saber bem, se não, desfrutámos desta longa e frutífera viagem onde tanto nos divertimos, aprendemos e crescemos.
É com esta espécie de carta orientadora que anualmente temos (Ca..DA Escola) decidido participar num concurso (ultimamente tem sido o Dance World Cup). Mas, atenção, esta capacidade de relativizar este tipo de avaliações requer alguma maturidade que, na maioria dos casos, não funciona em crianças pequenas, e é esse o motivo pelo qual raramente levamos crianças com menos de 12 anos.
O que tenho observado é que, na devida altura, esta experiência os faz crescer e evoluir muito. É muito motivadora e melhora não só as capacidades individuais, como o relacionamento dos grupos. Levamos algumas coreografias e nem todas conseguem boas classificações, mas encaramos isso como parte da experiência e ficamos muito felizes por fazermos parte de um todo e pelos nossos colegas que consigam melhores classificações. Tenho visto estes jovens a criar amigos, dentro e fora dos muros da nossa escola, e a alargar horizontes. Tenho visto estes jovens a tornarem-se bailarinos capazes e pessoas incríveis. Este é o meu/nosso objetivo.








E quero que fique bem claro: bons resultados não são fruto de uma parte só, são o resultado de um trabalho de uma equipa incrível, que integra:
• Alunos trabalhadores, que amam esta arte tão exigente;
• Pais que os apoiam financeira e emocionalmente;
• Coreógrafos espantosos, com uma imaginação sem limites;
• Professores/ensaiadores, que limpam e limam as coreografias até estarem perto da perfeição possível;
• Produtores empenhados, que tratam de todos os pormenores, que são imensos, e que fazem com que nada falte para um bom resultado final;
• E a peça chave que a nossa escola tem a sorte de ter: uma fisioterapeuta competentíssima que nos acompanha para todo lado e que nos mima e trata, zelando para que o corpo de bailarinos e seus professores esteja sempre nas melhores condições.
Obrigada a toda a equipa... e lembrem-se: o melhor de tudo isto é o caminho que se faz. Para mostrar um bocadinho de nós e do que é o fruto do nosso trabalho.
