Alterar hábitos
Cada vez mais, faz-me impressão a forma como nós, humanos, nos comportamos. A relação que temos com esta casa que é o nosso planeta é, no mínimo, negligente.
Cada vez que vou a um supermercado e vejo um carrinho cheio de sacos de plástico, cada um com duas ou três peças de fruta lá dentro, e quando olho com atenção para as prateleiras dos supermercados e quase só vejo plástico, quando olho para os lanches diários das crianças e quase tudo vem embalado em plástico, fico com uma sensação de impotência gigante.
É claro que as mudanças dão trabalho, mas não são elas tão indispensáveis para a nossa sobrevivência? O corpo e a mente humana são muito adaptáveis, e quando insistimos numa rotina ela acaba por se tornar automática e a energia que gastamos para a executar passa a ser reduzida. Por isso, o que à primeira vista pode parecer uma missão impossível, com alguma insistência, pode tornar-se simples e fácil.
Um dos exemplos pessoais desta adaptabilidade é a minha rotina de compras semanais. Antes de ter consciência do verdadeiro estado do nosso planeta e do impacto das nossas e minhas ações, ia ao supermercado apenas com a minha carteira e vinha de lá cheia de comida... e de plásticos. Agora, quase sem pensar, levo para as minhas compras sacos de vários tamanhos em tecido leve para frutas, legumes, leguminosas, cereais, chás de folha, bolos e bolachas, e caixas de vidro para carne, peixe, queijo, etc.






Outra mudança que achava difícil era a da alimentação. Cresci com o hábito de comer carne e peixe, ao almoço e ao jantar, e leite ao pequeno almoço. O leite era, para mim, um alimento difícil de deixar, pois associava o leite quentinho com café a uma sensação de conforto. Um dia, resolvi começar a experimentar outras bebidas e o resultado, agora, é que já nem consigo beber leite e ainda descobri que aquela sensação de má digestão que tinha pela manhã se devia ao consumo do leite. Neste momento, tento fazer uma alimentação maioritariamente à base de produtos vegetais, porque me faz alguma impressão a forma como são tratados os animais e porque, em termos ambientais, a forma como nos alimentamos é insustentável. Para os jovens cá de casa, que também não foram habituados desde tenra idade a uma dieta maioritariamente vegetariana, ainda é um compromisso difícil, vai levar o seu tempo e exigir algum amadurecimento, mas vamos tentando todos os dias e já reduzimos um bocadinho, sim, porque se todos nós contribuirmos para esta redução talvez os animais deixem de ser tratados como seres inanimados.
Quando penso em tudo o que me parecia difícil ao início, e que agora se tornou natural e rotineiro, vejo que já percorri um bom caminho, mas também fico com a consciência da distância enorme que ainda me falta percorrer. Costumo dizer aos meus alunos que não existe o "não consigo", existe o "estou a trabalhar para conseguir".