A responsabilidade de ser professor

17-03-2019

Para mim, ser professor é ser um influenciador. Não temos essa consciência sempre presente mas os miúdos e jovens estão sempre a observar, e não aprendem só quando ensinamos matérias. Talvez aí até seja onde menos influenciamos. Eles aprendem com todo o nosso ser. Aprendem com a paixão com que falamos sobre as matérias, com a forma como reagimos, aprendem com a forma como solucionamos os problemas, aprendem com a nossa forma de estar, com as nossas opiniões, com a forma como falamos com eles, com a forma como falamos com os outros, com as escolhas que fazemos, e até com a forma como nos apresentamos. Eles estão atentos a tudo e a nossa responsabilidade é imensa. Arrisco a dizer que é uma das profissões mais importantes do mundo.


Quantas vezes já ouviram as crianças pequenas dizer que quando crescerem querem ser professores? Todos os anos eu pergunto aos meus alunos mais novos,  o que querem ser quando forem grandes, e quase todos, a certa altura, passam pelo "quero ser professor". Para eles, nesse momento nós, professores, somos um modelo, assim como o pai e a mãe são super heróis. Eles querem crescer para ser como nós, logo tudo o que fazemos vai ficar marcado nas suas cabecinhas tão ávidas de modelos e informação.
Quando estas crianças se tornam jovens passa a ser um desafio conseguir a sua atenção de uma forma positiva, temos de nos tornar malabaristas para conseguir a sua atenção de forma positiva. Sim, porque é muito mais fácil conseguir a sua atenção de forma negativa. Eles passam a ser críticos implacáveis, ou já não se lembram das alcunhas que davam a alguns dos vossos professores? Qualquer deslize nosso pode resultar em escárnio ou desinteresse por parte deles, mas aqueles que conseguirem a sua atenção interessada passam a ter um grande poder de influenciar, passam a ser modelo outra vez, de uma forma mais subtil mas muito poderosa. 


Neste meu processo para um estilo de vida com mais consciência e respeito pelo ambiente que nos permite a vida, nunca fiz campanhas nas minhas aulas sobre este estilo de vida, até porque ainda não encontrei uma forma de o fazer sem que se torne uma imposição e as imposições normalmente não têm tanta força nem são tão permanentes como as descobertas, mas tenho vindo a perceber que ser eu própria talvez seja o caminho, e que já influenciou algumas cabecinhas. Às vezes, os alunos fazem perguntas sobre os objetos que uso ou sobre atitudes que tenho, nessa altura eu explico e eles ouvem com muita atenção. Mais tarde, apanho-os a reproduzir os comportamentos. Esta é a melhor forma de influenciar, é sermos genuinamente nós e respeitarmos o ritmo e interesse dos miúdos.


Isto leva-me a um assunto da nossa atualidade, e que foi a manifestação de jovens pelo ambiente, globalização de uma iniciativa ativa despoletada precisamente por uma jovem sueca. Por cá, foi com grande tristeza e indignação que vi muitos alunos dizerem que não iam fazer a greve nem iam à manifestação porque nem ousavam pedir aos pais, pois faltar às aulas está fora de questão.
É claro que não devemos faltar às aulas, sou a primeira a defender isso, até porque na minha área uma assiduidade intermitente é a morte do artista, mas (sim, há mas) se for por um motivo nobre, justificável e principalmente em jovens que não têm por hábito faltar a nada, devemos apoiar. Acreditem que algumas experiências fora da escola são mais formativas do que um dia de aulas normal. Nós, seres humanos, aprendemos melhor quando há uma experiência emocional associada, e estes momentos são normalmente emocionantes.
Mas o pior para mim, foi a intransigência de alguns professores que dissuadiram completamente os alunos, alguns até, com uma espécie de ameaças! Isto deixou-me muito triste. Não deveríamos nós professores/influenciadores estar a apoiar uma causa tão nobre? Não deveríamos ser membros ativos de uma mudança que tem a ver com sobrevivência do nosso planeta? Não deveríamos ter aproveitado para ensinar uma lição sobre respeito? Não deveríamos apoiar os nossos alunos a lutar pelas causas em que acreditam? 

foto de Ísis Gomes
foto de Ísis Gomes


Por outro lado, foi com muito orgulho que ouvi a minha filha a pedir-me para participar neste momento. Depois de uma breve conversa sobre o assunto disse-lhe que deixava mas ela tinha de se comprometer a mudar mais alguns hábitos que não fossem bons para o planeta.
Aqui fica a sua lista a acrescentar a alguns hábitos sustentáveis que já pratica:
⁃ Passar a usar os discos desmaquilhantes reutilizáveis;
⁃ Mudar para um desodorizante mais ecológico;
⁃ Comprar menos coisas embaladas;
⁃ Não ter o aquecedor tanto tempo ligado;
⁃ Tomar banhos mais curtos;
⁃ Ter mais cuidado a reciclar.


Carla Albuquerque | © 2019
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